segunda-feira, 9 de junho de 2014

Pra não dizer que eu não falei de Copa

#vaitercopa, mas

  • Parcela significativa da sociedade brasileira percebeu que não valeu a pena o volume de gastos públicos em estádios-elefantes brancos ou re-reconstruídos (é assim mesmo, não sou gago). Por ironia do destino, o país do futebol, ao sediar uma Copa ("de perto, ninguém é normal"), conscientizou-se de que o padrão FIFA se dá às custas do não investimento nas condições básicas de vida da maioria da população. Claro que as elites são coerentes: não investem em saúde, educação, transporte público etc. com ou sem Copa. Não há legado, há direitos negados e setores logrados.
  • Mesmo com o ataque especulativo da mídia empresarial e do comércio em geral, a empolgação e o consumo não são extraordinários se levarmos em conta que esta Copa é no Brasil. Falo isso não porque vi no Gúgou, Feice ou tese acadêmica. É o que vivi desde a primeira Copa em que eu já tinha algum grau de compreensão (sobre futebol), em 1974, e o que estou vendo hoje no meu quarteirão, bairro, cidade onde moro e cidade onde trabalho.
  • Os questionamentos gerais, difusos e confusos ou as reivindicações específicas vão continuar. Junho de 2013, com suas contradições, formou um caldo de cultura propício para que demandas reprimidas irrompam em manifestações, ações diretas e insurgências contra o statu quo - nos governos e empresariado insensíveis ou nos sindicatos conformados. Também acho que a palavra de ordem "Não vai ter Copa" estava equivocada, mas é bom lembrar que diversos setores em luta utilizaram alternativas como "Copa para quem?" ou "Na Copa vai ter Luta". Céticos e "críticos dos que criticam" diziam que Junho de 2013 não valeu porque foi genérico; agora não vale porque é específico, corporativo. Ora, todo projeto expressa - e disputa - interesses de corporações econômicas, culturais ou políticas. A diferença é que algumas dessas corporações controlam o processo produtivo, o aparelho de Estado, a mídia etc.; exercem a hegemonia ideológica e transformam seus interesses particulares em interesse geral. Também acho que as lutas não deviam ser corporativas. Uma greve geral seria o melhor.
  • Mesmo tendo luta, ninguém é de ferro. Não há contradição entre questionar e acompanhar/torcer. O futebol é uma das expressões da cultura popular brasileira. Aqui - e pesquisas mostram que não mais do que na Argentina ou Inglaterra - o futebol é uma paixão nacional. Em outros países pode ser o basquete, beisebol, hóquei, tênis de mesa... Ou seja, o futebol não é o ópio do povo. O "ópio" pode ser qualquer esporte ou outro aspecto cultural de um povo que sirva para aliená-lo. Qual país tem a sua seleção de futebol com índice de credibilidade maior do que governos, partidos, igrejas e polícias? A Alemanha! Isso mesmo, a Alemanha. Peguei a tabela da Copa e agendei um monte de jogos da primeira fase (da Espanha, Argentina, Alemanha, Itália e Holanda): depois do trabalho ou de alguma manifestação importante, darei prioridade a esses jogos. Aliás, assisto muita coisa também em Olimpiadas.
  • Não é "obrigação" torcer pelo Brasil. E isso não tem nada a ver com ser de oposição ou ser governista. Na maioria das vezes, torci pelo Brasil. Lembro-me de não torcer em 1990 (eu odiava o Lazaroni, técnico da seleção, que deixou Bebeto e Romário no banco). Em 2006 e 2010, sinceramente, não sofri com a eliminação do Brasil. O futebol, como tudo, foi globalizado e o Brasil é o melhor exportador de commodities para o futebol de 1º mundo jogado em três ou quatro países europeus. Em mim, isso cria um certo distanciamento - coisa de velho, talvez. Jogo da seleção na Copa é sinônimo de não-trabalho, cerveja, amigos e outras coisas legais - acho que as manifestações de protesto devem acontecer em outro momento. Se eu aproveito feriado de Corpus Crhisti (não consigo entender o motivo do feriado), por que não vou curtir os jogos do Brasil na Copa? Mas, já decidi que não vou de verde e amarelo (putz, a camisa do PSOL é amarela...).