quinta-feira, 29 de novembro de 2012

BAIXADA: QUEM?

Da série: lembrei! Hà quatro anos acontecia o seminário "BAIXADA: QUEM? - inventou, descobriu, construiu, misturou". Projeto final de curso organizado por mim e Felipe Felix. Pra quem tiver interessado (mande sinal de fumaça pelo Face), há um caderno de textos com artigos de Genesis Pereira Torres Torres, Hélida Mascarenhas Guarani Kaiowá, Jorge Cardozo, Luciana Corrêa do Lago, Maria Fatima Souza Silva, além da Carta Cultural da Baixada Fluminense e Fórum Baixada Fluminense em Perspectiva.


segunda-feira, 30 de abril de 2012

Baixada, blitz, documento!



Ewerson Cláudio de Azevedo 

A Baixada Fluminense tem uma identidade própria comum? Tudo indica que sim, afinal, é um fato a existência de características sociais, econômicas, políticas, culturais e geográficas, entre outras, semelhantes e próprias que nos habilitam a uma identificação única. 

Porém (ai, porém), a coisa não é tão simples assim. Identidade não é apenas a reunião de características comuns. Identidade implica em autorreconhecimento, em consciência de si, a velha e correta história do PARA SI e não apenas EM SI. 

Para além das complicações dos limites geográficos de uma região com 13 municípios (o que há de comum entre Paracambi e Magé ou Itaguaí e Gaupimirim?), há também questões a serem pensadas que dizem respeito a um suposto “miolo” da Baixada: Duque de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis, Mesquita, Belford Roxo, Nova Iguaçu e Queimados. A população da Baixada se vê igual? Mais do que isso: as pessoas têm consciência disso e se interrelacionam enquanto iguais? Além da linha de ônibus Queimados-Caxias (que passa em seis dos sete municípios do “miolo”), a Baixada se liga – nos vários sentidos do termo – cotidianamente? 

A minha impressão é que não ou, pelo menos, muito pouco, muito aquém do necessário para nos orgulharmos de uma identidade própria. Até pela história de nossa formação social, vivemos bastante isolados uns dos outros. Afinal, a Baixada é filha da falta de planejamento do crescimento da metrópole. A partir da década de 50 e, principalmente na de 60, os pobres da periferia da Guanabara (menos os das favelas mais ao centro, que foram levados para a Cidade de Deus e Zona Oeste) e os que continuavam chegando do Nordeste e do interior do Sudeste, foram jogados nos municípios mais pertos do antigo estado do Rio de Janeiro. Este que vos escreve, por exemplo, é filho de capixabas, nasceu em 1962 em Santa Tereza, morou em Bento Ribeiro e desde 1969 habita pelas bandas de Mesquita/Nova Iguaçu. 

Assim, em parcerias, digo, ação entre amigos dos poderes públicos com donos de loteamentos, foram aparecendo bairros sem rede de esgotos, abastecimento d’água ou iluminação pública. Com a explosão do crescimento demográfico desses lugares, multiplicaram-se os problemas: trânsito e transporte ruins, redes públicas de saúde e educação precárias e insuficientes, ausência de aparelhos e política culturais etc. Isso tudo contribui para o “exílio em si mesmo” de cada município e até de cada bairro. 

Além disso, a capital, pelo poderio econômico, possui uma força gravitacional desproporcional. Cada município da Baixada é atraído diretamente para a órbita do Rio e, em sua rota de satélite, não vê e nem interage com o seu vizinho. É claro que há inúmeras iniciativas, em especial na sociedade civil organizada, de re-união da Baixada, mas o que estou dizendo é que isso ainda é insuficiente e não é um movimento espontâneo dos indivíduos da região. Além do mais, disputas do tipo “quem é a capital da Baixada, Caxias ou Nova Iguaçu?” – que indiretamente reproduz a relação Império-Colônia que o Rio tem conosco – só fortalece o isolamento e a divisão tão propícios para o Reino. 

Concluindo, acho que a Baixada precisa de mais iniciativas de autorreconhecimento e de incentivo a reflexões e ações conjuntas. A Rede de Cultura organizada pela FASE, o Fórum Reage Baixada que pretende promover atividades permanentes e a comemoração do Dia da Baixada, entre outros, são ações importantes que devem ser elogiadas e fortalecidas. A caminhada só está começando. No futuro, quem sabe, não correremos o risco de sermos pegos desprevenidos quando a sociedade gritar: “Baixada, blitz, documento!”. Teremos os instrumentos. 

(publicado originalmente em 19.04.2007)

domingo, 29 de abril de 2012

Ficha Limpa em Mesquita na Câmara

24/abr/2012 - Trecho da fala de apresentação da proposta de emenda à Lei Orgânica Municiipal na Câmara de Vereadores de Mesquita

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Câmara discutirá ficha limpa para cargos comissionados em Mesquita

Representantes do Ficha Limpa em Mesquita entregam projeto à Câmara Municipal
O Movimento Ficha Limpa em Mesquita entregou, nesta terça-feira, 24 de abril, projeto de emenda à Lei Orgânica Municipal estabelecendo os critérios do “Ficha Limpa” nacional para a nomeação de...

O Movimento Ficha Limpa em Mesquita entregou, nesta terça-feira, 24 de abril, projeto de emenda à Lei Orgânica Municipal estabelecendo os critérios do “Ficha Limpa” nacional para a nomeação de cargos comissionados no Executivo e no Legislativo de Mesquita.

O Movimento Ficha Limpa em Mesquita entregou, nesta terça-feira, 24 de abril, projeto de emenda à Lei Orgânica Municipal estabelecendo os critérios do “Ficha Limpa” nacional para a nomeação de cargos comissionados no Executivo e no Legislativo de Mesquita.

O movimento teve início em julho de 2011, proposto pelo Movimento Fé e Política, a ComCausa, o SEPE, o Sindsprev e o PSOL, ganhando várias adesões posteriormente.

Segundo coordenadores do movimento, a adesão da população foi surpreendente, mas a captação de assinaturas é lenta, pois cada pessoa, além de assinar, tem que preencher um formulário com título eleitoral e outros dados. Quando se percebeu que a coleta de assinaturas iria atravessar o momento eleitoral, resolveu-se levar o projeto à Câmara, através de sua presidência, para que ele fosse discutido e votado logo. O projeto de lei foi protocolado pelo presidente da Câmara, André Taffarel sob o nº 270/2012.

A sessão da Câmara que recebeu a proposta teve também uma Tribuna Livre – expediente previsto na Lei Orgânica da cidade – onde entidades podem fazer uso da palavra. Além dos vereadores Taffarel e Ricardo Fried, que se manifestaram favoráveis ao projeto, o Ficha Limpa em Mesquita foi representado por Ewerson Cláudio, que fez um histórico do movimento e afirmou que “aprovar o Ficha Limpa não resolve os graves problemas da política, dentre eles a corrupção, mas é um dos passos necessários rumo à transparência e a utilização do bem público para atender aos interesses da maioria da população”.

Do site da ComCausa - Cultura de direitos

terça-feira, 24 de abril de 2012

Eu, Marta Harnecker e Jorge Almeida (foto: Lujan Miranda)

A amiga piauiense Lujan Miranda finalmente emviou-me a foto que ela tirou em janeiro de 2002, durante o I Fórum Social Pam-Amazônico, realizado em Belém.

Jorge Almeida, além de meu amigo, é dirigente nacional do PSOL e professor da UFBA. Marta Harnecker é cientista política chilena, vive em Cuba desde 1974 e dirige o Centro de Recuperação e Difusão da Memória Histórica do Movimento Popular Latino-Americano.

No final da década de 1970, nas minhas leituras iniciais de textos marxistas, li uma coleção de textos (Global editora) em linguagem mais simples elaborada por Marta Harnecker e Gabriela Uribe. Os títulos eram: 1 – Explorador e exploradores; 2 – Exploração capitalista; 3 – Monopólios e miséria; 4 – Luta de classes; 5 – Imperialismo e dependência; 6 – Capitalismo e socialismo e 7 – Socialismo e comunismo.

Fiquei gratamente surpreso em “reencontrar” Marta em 2002. Muito simpática, conversamos rapidamente – ela, Jorge Almeida, Neiva, Lujan e eu - no hall do hotel em que estávamos hospedados.

sábado, 21 de abril de 2012

Ficha Limpa entregará proposta à Câmara Municipal de Mesquita


Nesta sessão haverá uma TRIBUNA LIVRE onde as entidades que organizaram o movimento FICHA LIMPA EM MESQUITA farão pronunciamento. A partir da entrega do Projeto de Emenda à Lei Orgânica de Mesquita, a Câmara de Vereadores discutirá e votará texto criando critérios para preenchimento de cargos comissionados no Executivo e no Legislativo municipal.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Reflexões a partir do debate BAIXADA E MEGAEVENTOS NO RIO


(Debate organizado pela ComCausa, em 18/ab/2012. Palestrante: Aércio de Oliveira; coordenador: Ewerson Cláudio)

  • Os megaeventos do Rio têm servido como mote para uma redefinição urbanística da capital que interfere em toda a região metropolitana, onde está a Baixada Fluminense. Por trás do oba-oba,  o Brasil está submisso a interesses econômicos da FIFA (vide Lei Geral da Copa) e promovendo faxina étnico-social. 
  • A remodelagem do Rio baseia-se na especulação imobiliária, na privatização direta ou indireta de espaços da cidade (Porto Maravilha, áreas da Barra) e no deslocamento da pobreza para longe das áreas nobres e promissoras para o capital. O resultado disso, para a periferia como a Baixada Fluminense, será a continuidade da urbanização desordenada. 
  • Os megaeventos têm sua importância (e consequências) econômico-social e simbólica, mas o estado do Rio está passando por uma série de intervenções econômicas que movimentam um volume de recursos muito maior – e de caráter permanente: a exploração do pré-sal, Porto do Açu, COMPERJ (Complexo Petroquímico), Arco Rodoviário Metropolitano, entre outros. Infelizmente, tudo isso está dentro de um modelo de desenvolvimento que, ao invés de integrar, agride as comunidades locais e o meio ambiente ao não buscar alternativas de matriz energética. 
  • O conjunto de intervenções urbanísticas a partir dos megaeventos privilegia as áreas nobres. Baixada Fluminense, região de São Gonçalo e a própria periferia da capital são pra lá de secundários. Das vias públicas a serem construídas, a prioridade é integrar a Barra (como a Transcarioca). Nessa área, a única obra com interferência direta em relação à Baixada Fluminense é a extensão da Via Light até a Transcarioca. Ainda assim, devemos conferir – e pressionar – para que esta obra entre de fato no rol de prioridades. 
  • No conjunto de intervenções na área de saneamento básico, o Projeto Iguaçu (recuperação dos rios Iguaçu, Sarapuí e Botas) prevê a construção da Transbaixada, às margens do rio Sarapuí, ligando Duque de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis e Mesquita. O problema é que a inauguração estava prevista ...para 2012! Ou seja, sem pressão, corre o risco de ficar no papel. 
  • A sociedade civil da Baixada Fluminense tem que pressionar e intervir no que está sendo feito (ou apenas pensado) para a região. Como exemplo, o Arco Rodoviário Metropolitano não é só uma estrada que levará produtos do COMPERJ ao Porto de Itaguaí. Ela corta cidades, comunidades, sítios arqueológicos, culturas, histórias, faixas de mata atlântica. Sem consciência ecológica e planejamento para o entorno da estrada, junto com o asfalto, veremos a degradação ambiental e a ocupação desordenada. 
  • A recuperação ambiental dos rios da Baixada Fluminense só será algo duradouro se estiver acompanhada de política habitacional séria, que enfrente o atual déficit de moradia, especialmente para a população de menor renda (coisa que o “Minha casa, minha vida” não tem dado conta). Além disso, é necessário que haja políticas sociais, culturais e educacionais permanentes. E só um detalhe: o projeto Iguaçu custa cerca de R$ 400 milhões. Derrubar o Maracanã e construir outro, pode chegar a R$ 1 bi. 
  • A metrópole – capturada pelos interesses capitalistas – continua concebendo a Baixada Fluminense como celeiro de mão-de-obra barata. As portas dos investimentos das elites continuam abertas para os peões da construção civil, empregadas domésticas, porteiros, vigilantes, garçons etc. 
  • O fluxo é desigual e descombinado: nossas águas do rio Guandu chegam rapidinho ao centro e à zona sul da capital e o desabastecimento só aumenta aqui na Baixada. Por outro lado, até para vender nossa força de trabalho “lá em baixo”, gasta-se até de quatro a cinco horas no péssimo transporte – engarrafados no asfalto ou enlatados no trem e no metrô. 
  • Sinais de luta e mobilização: em 24/mar/2012 o movimento “Água para Todos” fez manifestação de protesto contra a falta d’água em inúmeros bairros de Mesquita. No dia 10/abr/2012, a partir da mobilização de educadores e pais de alunos, houve audiência pública da Câmara de Vereadores de Mesquita sobre o vertiginoso aumento da violência e da guerra do tráfico de drogas no bairro da Chatuba, em Mesquita. Água e narcotráfico são faces de uma política que coloca um cordão sanitário para abastecer e proteger áreas nobres, empurrando as mazelas para bem longe (deles), na periferia.

domingo, 15 de abril de 2012

A Baixada e os megaeventos no Rio

Qual a relação entre esses acontecimentos e os investimentos? Quais são os impactos sociais e ambientais previstos? A sociedade civil da Baixada Fluminense tem voz para interferir nos rumos dessas...
Palestrante: Aércio de Oliveira (FASE – Solidariedade e Educação)
Coordenação: Ewerson Cláudio (colaborador da ComCausa) 
  • Quando? 18 / abr / 2012, quarta-feira, 19h
  • Onde? Salão da Igreja São José Operário (Praça da Telemar, Mesquita, em frente à estação de trem)
Qual a relação entre os megaeventos e os investimentos? Quais são os impactos sociais e ambientais previstos? A sociedade civil da Baixada Fluminense tem voz para interferir nos rumos dessas obras?

Com o objetivo de refletir sobre o desenvolvimento da Baixada para os próximos anos, a ComCausa promove um Café no Ponto para debater a realização de megaeventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 e os investimentos como a construção do Arco Rodoviário Metropolitano (que cruzará a Baixada até o porto de Itaguaí); o impacto da implantação do COMPERJ (maior complexo Petroquímico do estado), o Projeto Iguaçu (recuperação ambiental dos Rios Iguaçu, Sarapuí e Botas), entre outros.

Transmissão ao vivo:
A atividade será transmitida em tempo real pela internet através do twitter da ComCausa)


terça-feira, 13 de março de 2012

O tempo passa e só reforça em mim a sensação de que tive a rara oportunidade de desfrutar do convívio de duas pessoas maravilhosas:

Genildo e Wanderley 

Ewerson Cláudio de Azevedo 

No dia 11 de março de 2003 tivemos a perda dos companheiros Genildo Batista e Wanderley Costa. Acredito que poucas pessoas tenham convivido com os dois ao mesmo tempo. 

Genildo, 54 anos, baiano, economista, vivia em São Paulo desde o início da década de 90. Wanderley, 41 anos, ferroviário, carioca da gema, foi cria da Vila da Penha, no subúrbio do Rio. 

Conheci e convivi com os dois e sinto em dobro a inestimável perda. A partir desta triste coincidência, fiquei refletindo sobre o elo de suas existências que produziram boas e profundas marcas em mim. 
 
Fundador do PT, Genildo tornou-se militante desde a segunda metade da década de 60. Integrou a Ação Popular Marxista Leninista-APML; com o seu fim, atuou na Organização Comunista Democracia Proletária-OCDP e, depois, no Movimento Comunista Revolucionário-MCR, que se transformou na Força Socialista, em 1989. Genildo sempre foi um dos principais dirigentes políticos em todos os lugares por onde passou. 

Wanderley também foi fundador do PT. Participou de núcleos, campanhas e inúmeras atividades e foi diretor do Sindicato dos Ferroviários na segunda metade da década de 80. Foi militante, durante um período, tanto da Ala Vermelha, como do MCR. Da década de 90 pra cá, atuava como militante independente. Wanderley sempre foi um militante de base. 

Mas o que considero mais importante em Genildo e Wanderley não são suas fichas de militantes. Isto seria frio e burocrático. O instigante pra mim é a conduta pessoal, a filosofia de vida que vi nos dois. 

Genildo foi, sem dúvida, um formulador militante do comunismo e da revolução. Mas, muito mais do que isso, foi uma pessoa que soube expressar em atos e posturas a concepção de uma nova sociedade e de novos seres humanos que defendia. Radical sem ser estreito, firme sem ser sectário, sério sem ser chato; simples no modo de ser, de vestir-se e, ao mesmo tempo, complexo, requintado e preciso na capacidade de pensar, escrever e conduzir a política. Nunca vi Genildo envolvido em disputas mesquinhas e menores – senão para resolvê-las! – e sua sobriedade nunca o impediu de ser educado; vivia concentrado nas questões políticas e nas intermináveis tarefas daí decorrentes, mas era atencioso com cada pessoa que dele se aproximasse; conseguia ser polido e bem-humorado. 

Lembro-me do meu primeiro contato com Genildo. Era 1985. Fui à Bahia, pela primeira vez, para representar a Ala Vermelha no encontro estadual da OCDP. Essas duas organizações, mais o Movimento de Emancipação do Proletariado-MEP, unificavam-se para formar o MCR. Na clandestinidade, esqueci de comprar o Jornal dos Sports, que seria minha senha. Depois de ficar espreitando-me por uns cinco minutos, Jorge Lessa aproximou-se e perguntou se eu estava ali para o “casamento”. Respondi que sim e demos um forte aperto de mão. Isso tudo numa praça... em frente à Secretaria de Segurança. Logo depois, estava num fusca dirigido alucinadamente por um albino que quase encostava o rosto no pára-brisa e pingava um colírio ao mesmo tempo em que dirigia – assim conheci Franklin. Na travessia para Itaparica, no Ferry Boat, um negro alto, de gestos pacientes, altivo e de fala pausada argüia-me sobre as posições da Ala Vermelha: União Soviética, estratégia do socialismo no Brasil, papel do PT – assim conheci Genildo (e o Neiva, no Rio, dizia-me que não tinha problema o fato de eu não ser do Comitê Central e só ter 23 anos, que a discussão ia ser fácil...). 

Wanderley foi, sem dúvida, um militante e um indivíduo não convencional, portador da inquietação, da prática inovadora e insubordinada a padrões e conceitos. Claro está que não foi dirigente nem formulador. Mas foi vanguarda no sentido exato do termo: com sua ação, forjava o alargamento de limites comportamentais; inaugurava, sem plano ou meta, o jeito de ser, viver e se relacionar com o outro. Wanderley – o nosso Derley – viveu todo o tempo em comunidade e para ela; para a sua grande e bela Família Costa e todos nós agregados. Mas Wanderley certamente tinha o mundo como comunidade. Se há algo mais comunista que isso, eu não conheço. O mais alegre e brincalhão dos doze filhos do saudoso Seu Domício e da guerreira Dona Maria. Daquelas pessoas em que vemos o amor por sua companheira, seus filhos, familiares e amigos, brotar incessantemente no olhar e nos gestos. Contudo, não nos enganemos com seu jeito brincalhão. Operário da Ferrovia e artista que pintava lindos painéis em muros na campanha de Vilma Costa e Fátima de Souza em 1982 e vários quadros, Wanderley conseguia ser fanfarrão e, ao mesmo tempo, solidário e profundamente comprometido com a dignidade humana. Doía-lhe a dor alheia a ponto de não sentir a própria dor. 

São inúmeras as lembranças de Wanderley. No primeiro acampamento em que fui, na praia de Santo Antônio, em 1981, vi-o repartir um pão para cerca de 40 pessoas. Quando eu, Cosme, Valéria, Lourdes e Graça viajamos para o Nordeste, em 87, saiu correndo e gritando atrás do ônibus; quando o motorista parou, subiu pela roda e deu um beijo no rosto de Cosme. Quando fazíamos uma arriscada travessia para a Ilha Grande num pequeno barco apinhado de gente, à noite, Wanderley grita de repente: - Geeeente! – E quando todos olham sobressaltados, ele completa: “- Puta que pariu! O céu tá lindo, tá todo estrelado!” Nesta última campanha eleitoral, encontrei-o na boca-de-urna: estava com material de quatro deputados federais – não há dúvida, era o Wanderley! 

Agora, Genildo e Wanderley não estão mais entre nós. Não se conheceram nessa vida. Mais do que seres humanos extraordinários que foram e continuarão sendo em nossas lembranças, para mim a convivência com eles teve um significado paradoxalmente parecido: Genildo tentou nos mostrar que a vida com dignidade só será alcançada com um permanente esforço e aplicação da nossa energia em prol da construção de uma nova sociedade. Wanderley, por seu turno, tentou nos mostrar que, ao lado da luta incessante, é preciso transformar desde já o jeito de ser de cada um, agindo do jeito que a gente quer que o novo ser humano seja. 

Para mim, de ambos, um grande legado. 

Por fim, quero mandar um grande abraço para Iara, Dimitri e Dalila. Um grande abraço também para Shirlete, Gabriela, Yuri, Nayara, Dona Maria, Vilma, Wilma, Washington, Warley, Walter, Valéria, Welington, William, Viviane, Vanice e Vânia. 

Registro também uma frase dita por Dona Maria, no velório:
“Queria trocar ele por mim, mas não posso. Então se cuidem, meus filhos, para que eu não tenha mais que viver momentos como esse”. 

E uma música do Gil, gravada pela Simone no final da década de 70: 

Então vale à pena 
(Gilberto Gil )

Se a morte faz parte da vida 
E se vale à pena viver 
Então morrer vale a pena 
Se a gente teve o tempo para crescer 

Crescer para viver de fato 
O ato de amar e sofrer 
Se a gente teve esse tempo 
Então vale a pena morrer 

Quem acordou no dia 
Adormeceu na noite 
Viveu cada alegria sua 

Quem andou pela vida 
Atravessou a ponte 
Pediu bênção à dindinha lua 

Não teme a sua sorte 
Abraça a sua morte 
Como a uma linda ninfa nua 


Sábado, 15 de março de 2003

quinta-feira, 8 de março de 2012

Lugar de mulher

Seu lugar já foi cama e mesa
Que tristeza
Veio o trabalho, uma revolução
E, junto, a dupla exploração
Há quem a quer dócil e indefesa
E por trás do carinho fazer sua presa

Ela foi aprendendo a andar andando

Rimando carinho com luta
Lapidando sua força bruta
Decidindo ter ou não ter filho
Conquistando seu lugar em passeata
Feito andarilho

E foi surgindo então
Mãe sindicalista
Pessoa solidária
Mulher ativista
Companheira socialista

Junto com ela, o homem consciente
Que sabe ser igual sendo diferente

E seu lugar vai sendo conquistado assim
Creche, saúde, educação – tim-tim por tim-tim
Com luta que não desanima
Com paciência e ousadia
Com fé – menina

Ewerson Cláudio, em 1990

domingo, 4 de março de 2012

O Brasil como ele é


Tamanho da economia
IDH
Distribuição de riquezas
84º
3ª PIOR colocação


As maiores economias do mundo

1 - Estados Unidos; 2 - China; 3 - Japão; 4 - Alemanha; 5 - França; 6 - Brasil; 7 - Reino Unido 

IDH:

Na América Latina, perdemos, pela ordem, para: Chile, Argentina, Uruguai, Cuba, México, Panamá, Costa Rica, Venezuela, Peru e Equador 


Maiores desigualdades

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), dos 15 países do mundo nos quais a distância entre ricos e pobres é maior, 10 estão na América Latina e Caribe. O Brasil tem o terceiro pior Índice de Gini — que mede o nível de desigualdade — do mundo, com 0,56, empatando nessa posição com o Equador. Concentração de renda pior só é encontrada em Bolívia, Camarões e Madagascar, com 0,60; seguidos de África do Sul, Haiti e Tailândia, com 0,59. 

Na região, os países onde há menos desigualdade são Costa Rica, Argentina, Venezuela e Uruguai, com Gini inferior a 0,49. 


A desigualdade por dentro 

Segundo o IBGE, os 10% mais pobres ganhavam apenas 1,1% do total de rendimentos. Já os 10% mais ricos ficaram com 44,5% do total. Outro recorte revela o rendimento médio no grupo do 1% mais rico: R$ 16.560,92. Os 10% mais ricos no País têm renda média mensal 39 vezes maior que a dos 10% mais pobres.

No Brasil, os rendimentos médios mensais dos brancos (R$ 1.538) e amarelos (R$ 1.574) se aproximaram do dobro do valor relativo aos grupos de pretos (R$ 834), pardos (R$ 845) ou indígenas (R$ 735).