quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Dona Sueli


Quando percebi que minha mãe não ficaria ali comigo, comecei a choramingar. Era o meu primeiro dia na escola e ela não tinha combinado comigo que eu ficaria lá sozinho. Minha mãe explicava à Dona Sueli que eu enxergava pouco - ainda nem usava óculos! - e que precisava ficar bem pertinho do quadro. A professora improvisou uma carteira (lugar para sentarem duas crianças) à frente da primeira fileira, onde fiquei sentado com uma mochila colorida e minha lancheira.

A professora escrevia o cabeçalho e, quando se voltou para a turma para dar uma espiada nos pestinhas, tomou um susto. Ao olhar para a minha carteira, lá estava eu a copiar:

Instituto Paroquial Dom Bosco
Rua Oscar Bueno (não me lembro o número), Banco de Areia
Jardim de Infância - turma...

Ela colocava o cabeçalho no quadro só para constar, mas Dona Claudimira (minha mãezinha querida) já havia me alfabetizado em casa! Passei vários meses do primeiro semestre de 1969 em Anápolis, Goiás, junto com minha avó paterna, Ana, na casa de um tio-avô. Só comecei a ir para a escola em agosto, depois das férias de julho, quando já ia completar sete anos de idade. Ainda assim, conseguia fazer todos os deveres de aula e de casa - gostava mesmo de fazê-los.

No final do ano, tirei em "1º lugar" na turma e adorei quando ganhei de prêmio da Dona Sueli um revólver enorme de plástico (lembro-me que era amarelo), que saí mostrando para todos os colegas da rua Josefina. No ano seguinte, a direção da escola concluiu que eu poderia "pular" a 1ª série-A e ir direto para a 1ª série-B. No ano anterior, só fui para o Jardim de Infância porque, no teste inicial, que consistia em escrever o alfabeto, esqueci de colocar a letra H.

Não me lembro em que época as professoras viraram tias. Na década de 1970, com certeza, não. Depois de "Dona Sueli", lembro de "Dona Arlete" (2ª série) e "Dona Jacira" (2ª e 4ª). Quando terminei o primário, em 1973, tive sorte, pois havia acabado a necessidade da "Admissão ao Ginásio" - isso mesmo: você tinha que estudar um ano inteiro para "ingressar" no Ginásio.

Ah, a Dona Sueli - descobri depois -, à época, tinha dezessete anos.

Através dela e de minha saudosa mãe parabenizo todas as "donas", "tias", professoras, professores e mestres que tive e tenho no ensino formal e na escola da vida.

Ewerson Cláudio de Azevedo