Caldo de Cultura


A Importância da LIBRAS e a Cultura do Surdo 

O Centro Cultural Oscar Romero realizará no dia 17 de junho às 14h a palestra “A Importância da LIBRAS e a Cultura do Surdo”, seguida do espetáculo teatral “O Livro Mágico da Emília”.

Visando a democratização do acesso à cultura ao público surdo, a palestra apresenta-se como um instrumento auxiliador para esse fim. Bem como a peça que, de forma lúdica e inovadora, conta com interpretação simultânea de LIBRAS.

Os interessados na palestra poderão fazer a inscrição prévia e garantir sua vaga pelos telefones 2697-8257 / 2796-4862 ou enviando Nome, Endereço, Telefones, Profissão e CPF para o e-mail: amigosbcor@gmail.com

Ao final da palestra será oferecido um coffe break. E uma hora antes do espetáculo ocorrerá a distribuição de senha para o mesmo.

O Centro Cultural Oscar Romero fica na Rua Elpídio 530, Centro Mesquita. O evento é gratuito. Classificação: LIVRE.

Oficina de teatro para surdos

Trata-se de um projeto inclusivo através da Língua Brasileira dos Sinais (LIBRAS). Dentre outras atividades está sendo oferecida uma oficina teatral para surdos, que culminará em um espetáculo ao final. A produção e apresentação deste espetáculo será desenvolvida pelos alunos/atores surdos, e este será completamente desenvolvido para o público não ouvinte, e contará com interpretação para ouvintes.

Serviço:
Inscrições: 01/07 à 01/09 
Local para inscrições: Centro Cultural Oscar Romero. Rua Elpídio 530, Centro, Mesquita. 
Gratuito
Informações pelos telefones: 2697-8257 / 2796-4862
Ou pelo e-mail: amigosbcor@gmail.com


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Incubadora Rio Criativo-Baixada oferece consultorias gratuitas para produtores culturais em outubro

Escritório de Apoio à Produção Cultural auxiliará na qualificação de agentes do setor em São João de Meriti

A Incubadora Rio Criativo-Baixada, localizada em São João de Meriti, começará a oferecer em outubro o serviço gratuito de consultorias, seguindo os mesmos moldes do Escritório de Apoio à Produção Cultural (EAP), que funciona há cerca de dois anos na Secretaria de Estado de Cultura (SEC-RJ).

Voltado para a qualificação de agentes e produtores culturais, o EAP colocará à disposição dos interessados seis núcleos de consultoria: Elaboração e Enquadramento de Projetos Culturais, Prestação de Contas, Gestão de Projetos Culturais, Produção Cultural e Mobilização de Recursos, Legalização e Formalização de Empreendimentos Culturais e Cultura Digital.

A iniciativa é parte de um programa do governo estadual e executado pelo Instituto Gênesis, da PUC- Rio, o Rio Criativo – Incubadoras de Empreendimentos da Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro.

Mesmo antes de inaugurar sua sede em São João de Meriti, a Incubadora Rio Criativo - Baixada vai oferecer as consultorias gratuitas do EAP, que deverão ser agendadas por telefone e poderão acontecer de segunda a sexta-feira, a partir das 10h.

Para obter mais informações sobre inscrições, entre em contato com a Incubadora Rio Criativo-Baixada pelos telefones 2203-0598 e 9285-2297 ou pelo e-mail riocriativobaixada@gmail.com ou acesse o site Rio Criativo.


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97º sessão do Cineclube Buraco do Getúlio

Exibição do filme Transeunte, de Eryk Rocha
Quando: 19 de setembro · segunda - 19h às 22h
Onde: Espaço Cultural Sylvio Monteiro - rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - Nova Iguaçu
Depois de três incursões pelo documentário, Eryk Rocha apresenta Transeunte, seu primeiro longa-metrage ficção. Em 2010 o filme participou do 43º Festival de Brasília e recebeu os prêmios: de melhor ator para Fernando Bezerra, que interpreta o aposentado Expedito; de melhor som e o prêmio da crítica de melhor filme. Transeunte também participou do 6º Festival de cinema Latino-Americano onde ganhou o troféu memorial da América Latina pelo voto do público e o prêmio de menção honrosa da crítica. O filme, produzido pela VideoFilmes, estreia dia 12 de agosto nos cinemas.

Transeunte narra a história de Expedito, um aposentado de 65 anos que transita pelas ruas do Rio de Janeiro. Sua realidade se assemelha a de muitos brasileiros que passam despercebidos pelo ritmo acelerado da metrópole. Ele é apenas mais um que transita por esse deserto urbano.

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Abertura do X EncontrArte

Quando: 22 de setembro - quinta - 19:30
Onde: Teatro SESC Nova Iguacu - rua Dom Adriano Hipólito 10, Moquetá - Nova Iguaçu
Logo Encontrarte
Completando uma década de existência o Encontro de Artes Cênicas da Baixada Fluminense (EncontrArte) traz espetáculos de qualidade gratuitamente para a população da região. Antes da abertura das 16 peças acontecem performances de teatro e danças com artistas da Baixada com o intuito de realizar uma divulgação cada vez maior do ‘fazer artístico’ das cidades que compõem os 13 municípios e que juntos somam quase 4 milhões de habitantes. Habitantes esses que anseiam por melhorias no saneamento, saúde e educação, como também buscam por esta cultura, que lhes será oferecida por 10 dias.

Nesta edição, além de peças consagradas com prêmios nacionais poderão ser vistas pelo público local, já habituado ao calendário do EncontrArte. Um seminário será realizado com o intuito de discutir e debater o tema proposto sempre com profissionais renomados de diversas áreas de atuação com o objetivo de explicar e esclarecer as dúvidas que o tema abrange.

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Roque Pense - Edição 5 Anos da Lei Maria da Penha

Quando: 23 de setembro - sexta - 18h às 22h
Onde: Praça do Skate, Nova Iguaçu
O Roque Pense! é um circuito musical que traz discotecagem e shows de bandas com integrantes femininas e acontece em datas de luta pelos Direitos da Mulher, para fortalecer o combate ao sexismo, a discriminação pelo sexo.

A estréia do evento terá o lançamento do primeiro CD da banda Cretina, um grupo de Nova Iguaçu -  destaque no Festival Espaço do Rock. A banda de abertura, as Catillinárias, é formada por um trio de mulheres.

A discotecagem dos pesquisadores musicais Paulo Vítor e Felipe Sams é composta por uma repertório só de bandas e artistas femininas, e vai desde Sonic Youth a Novos Baianos. O músico Lê Almeida também entrou no clima e vai discotecar um repertório com vozes e sons femininos, e o pioneiro do audio visual da Baixada, VJ Paulo China, vai projetar imagens exclusivas para o roque de saias que vai invadir a Praça do Skate, que também terá comida vegan (vegetariana) e o Stand do Let’s Pense! com stickers e fanzines - que são publicações independentes -, onde será lançado o primeiro editorial do Roque Pense!

O Circuito Roque Pense é uma proposta do coletivo "Let’s Pense!", que realiza ações artisticas e de comunicação urbana em torno de uma proposta de combate ao sexismo. Entre os fundadora do coletivo estão a produtora cultural Giordana Moreira e seu namorado, o fanzineiro Paulo Vítor.

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Conversas na Galeria de Arte


Quando: 24 de setembro - sábado - 14h
Onde: SESC São João de Meriti - Av. Automóvel Clube, 66 – Centro - São João de Meriti
Conversas na Galeria de Arte são diálogos experimentais sobre Arte Contemporânea dentro de galerias de arte, museus, centros culturais, ruas, esquinas, bares e praças. A partir do primeiro olhar sobre uma determinada exposição, os participantes são convidados a compartilharem suas ideias, dúvidas, conceitos sobre a arte contemporânea.

A edição de setembro das Conversas na Galeria de Arte selecionou a exposição Do Moderno ao Pop que acontece até 30 de setembro na Galeria do SESC de São João de Meriti/RJ.Os artistas da ExposiçãoDaruich Hilal apresenta uma arte multicolorida criada a partir de formas geométricas sensibilizadas pela linha e forma.Eduardo Souza apresenta uma série de colagens com presença forte da reciclagem, suas formas e cores foram influenciadas pelos artistas da Pop Art.Mediadora/organizadoraMozileide Neri – Graduanda em Produção Cultural pelo IFRJ e Artista Plástica.


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Inscrições abertas para expor no Fórum de Nova Iguaçu

A artista plástica Neuza Dantas, em parceria com o Fórum da Comarca de Nova Iguaçu, está convocando artistas plásticos acima de 18 anos para se inscreverem na exposição coletiva que será realizada no mês de novembro no Fórum de Nova Iguaçu.

Poderão participar todos os artistas plásticos, tanto amador como profissional,, principalmente aqueles que pintam com a boca, com qualquer modalidade e técnica que aprecie. O tema é livre e todos receberão certificado de participação, além de ter livre opção de comercialização de sua obra de arte.


As inscrições serão encerradas quando completar os Biombos para a exposição.


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Neuza Dantas ao lado da obra "Tronco Verde"


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Encontro Nacional de Produção Cultural
ENCONTRO NACIONAL DE PRODUÇÃO CULTURAL
Acontecerá nos dias 18 e 19 de agosto e está sendo organizado por alunos da graduação em Produção Cultural do IFRJ (antigo CEFET-Nilópolis).
A atividade será no Palácio Gustavo Capanema e na Sala Funarte. Inscrições até 12/ago em http://encontronacionalpc.blogspot.com/p/inscricoes.html

O Encontro discutirá temas relativos à formação e à perspectiva profissional do Produtor Cultural e contará com professores de universidades que oferecem o curso de Produção Cultural, representantes de setores governamentais ligados à cultura e de empresas públicas e privadas com forte atuação no setor.

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Identidades e políticas culturais na Baixada Fluminense
Ewerson Cláudio

O autorreconhecimento é condição imprescindível para uma boa autoestima, para a mudança de rumos e a construção de futuro baseada nas potencialidades da população que constitui a região. Em minha opinião, há uma identidade adormecida, passiva. Todo mundo certamente acha que está entre mais ou menos iguais em se tratando de Baixada, mas, em geral, não há a preocupação de se tirar as conseqüências disso. A igualdade dá-se pelos estigmas e raramente vêem-se as virtudes dessas semelhanças.

Do ponto de vista sócio-econômico, formamos uma das regiões mais pobres do país. A dissemelhança geográfica com os morros da capital nos dá as características de uma favela deitada. A historiadora Marize Conceição lembra que aqui se formou a terceira maior concentração de população negra do país (atrás de Salvador e São Luís do Maranhão).

No rastro das cidades partidas, a Baixada compõe-se de tecidos sociais rasgados. Ao redor de centros comerciais para consumo de sua pequena classe média, multiplicam-se os excluídos. Adultos que foram expulsos do mercado formal de trabalho e jovens que jamais conseguirão entrar nele; que são cada vez mais assassinados com a banalização do extermínio (mais de 1200 mortos após a chacina da Baixada em 2005!). Cada vez mais, vamos nos acostumando a conviver com a ilusão neoliberal dos poucos shoppings centers rodeados pelo capitalismo real dos camelódromos.

Essas características sócio-econômicas ajudam a construir aspectos culturais próprios. Como diriam Garoto, Vinícius e Chico, é “gente humilde, são casas simples com cadeiras na calçada” - e que tem mania de andar no meio da rua, onde ainda se ouve o trotar frequente de cavalos puxando carroças. São gerações que foram vítimas do êxodo rural, do exílio das áreas nobres da capital e que vão sendo empurradas para as periferias das periferias, isolando-se em seus bairros afastados. Há pouquíssimas praças e um número menor ainda de brinquedos para as crianças. A coletividade manifesta-se em pequenas redes de solidariedade e de sobrevivência, seja na laje feita pelos vizinhos ou nas rodas bebendo-se cachaça e “baixa-renda” nos traillers, biroscas e puxadinhos na calçada. No final da década de 70, meu amigo Neco dizia que por aqui só havia motéis e bares. A coisa evoluiu: multiplicaram-se as igrejas evangélicas, as farmácias e as financeiras de empréstimo fácil...

Mas há também uma vasta rede de resistência cultural, em seu sentido mais amplo. Resquícios dessa gente retirante que trouxe seus costumes e que misturou identidades de regiões e gerações. Gente que é do samba/pagode e do forró; que mantém a tradição das quadrilhas de roda nas festas juninas e ainda guarda espaço, ainda que pequeno, para as folias-de-reis (do interior do país) e o calango, vindo de Minas. As tradições nordestinas tão bem representadas na Feira de Caxias ou através de repentistas de Queimados e Japeri. Os muitos Centros de Candomblé e Umbanda, onde há autoridades religiosas nacionalmente famosas como Mãe Beata, Mãe Nitinha e Mãe Torody (São João de Meriti tem a 2ª maior concentração de Centros do país, depois de Salvador). O futebol de várzea, que reúne milhares de pessoas nos finais-de-semana, das 6h da manhã(!) ao final da tarde.

Isso tudo convive com novas manifestações, sejam as que refletem um sentimento de resistência ou não-integração ao Sistema – como os segmentos da juventude que se expressam através do Hip Hop, da “cultura de rua” (grafiteiros, skatistas e street dancers), dos cineclubes alternativos, da arte circense etc. - ou aquelas manifestações que refletem exatamente a força da indústria cultural. E não tenhamos ilusões: quantitativamente, a imensa maioria da população da Baixada consome produtos culturais feitos em escala industrial, efêmeros e descartáveis

E numa região tão pobre-rica, quais têm sido as políticas culturais implementadas? Para se responder a essa indagação, é necessário que façamos uma abordagem a partir de dois aspectos: as políticas públicas, no sentido estatal-governamental e as políticas desenvolvidas por setores da chamada sociedade civil.

Quanto às políticas públicas de cultura, a meu ver, o resultado é o pior possível. Há uma ausência de política cultural. Pior que isso: nota-se a ausência de políticas de governo (ou ausência de governos) que sintam a necessidade de se ter uma política cultural. Até agora, o que tem acontecido tem muito mais o jeito de somatório (pra não dizer amontoado) de coisas que muito raramente produzem meras coincidências que se assemelham a algo intencional e que poderiam ser chamadas de políticas culturais. Na melhor das hipóteses, poucas pessoas bem intencionadas digladiam-se com engrenagens administrativas que funcionam para manter as coisas como estão. No máximo, pão e circo (se bobear, superfaturados...). Essa é a realidade em escala municipal, estadual e federal para a Baixada, uma região que precisaria de um grande investimento integrado para diminuir o enorme déficit sócio-cultural.

Esse é o resultado da ação de governos que não ultrapassam os marcos tradicionais da cultura política – e, como conseqüência, da política cultural – predominante. Administrações que não se propõem – mesmo aquelas que tinham condições de - a enfrentar a atual hegemonia ideológica a que a maioria do povo oprimido está submetida. Que não ousam estabelecer, em nenhum momento, elementos de contra-hegemonia, ainda que parciais ou localizados, que contribuíssem, a longo prazo, para o estabelecimento de uma nova cultura (aqui, no sentido amplo do termo).

Com esse quadro lastimável das políticas públicas de cultura na Baixada, resta à sociedade a alternativa da auto-organização. O artista e o produtor cultural ou de eventos de regiões pobres são desbravadores por excelência. Às habilidades específicas, são obrigados a juntar a capacidade de elaboração, captação de recursos e execução. Além dos artistas e produtores, há organizações da sociedade civil que têm se preocupado em estruturar, ajudar e dialogar com expressões culturais. Essas ações podem ser desde a identificação e preservação do patrimônio imaterial da região até a organização concreta de redes de movimentos culturais e realização de eventos. É claro que, olhando-se de conjunto, ainda predomina nessas iniciativas o olhar e o fazer segmentados; porém, se levarmos em conta as condições em que essas ações são realizadas, veremos que a parcela da sociedade civil que se organiza para produzir ações culturais concretas está muito à frente de seus acomodados governantes.

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25/jul - segunda-feira 19:00
Lançamento dos livros de Moduan Matus "Quintais Tropicais, livro de haicais", "A palavra, poemas visuais" e  "Poema caótico" (escrito coletivo)
Local: Espaço Cultural Sylvio Monteiro
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - Nova Iguaçu
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Baixada, blitz, documento!

A Baixada Fluminense tem uma identidade própria comum? Tudo indica que sim, afinal, é um fato a existência de características sociais, econômicas, políticas, culturais e geográficas, entre outras, semelhantes e próprias que nos habilitam a uma identificação única.

Porém (ai, porém), a coisa não é tão simples assim. Identidade não é apenas a reunião de características comuns. Identidade implica em autorreconhecimento, em consciência de si, a velha e correta história do PARA SI e não apenas EM SI.

Para além das complicações dos limites geográficos de uma região com 13 municípios (o que há de comum entre Paracambi e Magé ou Itaguaí e Gaupimirim?), há também questões a serem pensadas que dizem respeito a um suposto “miolo” da Baixada: Duque de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis, Mesquita, Belford Roxo, Nova Iguaçu e Queimados. A população da Baixada se vê igual? Mais do que isso: as pessoas têm consciência disso e se interrelacionam enquanto iguais? Além da linha de ônibus Queimados-Caxias (que passa em seis dos sete municípios do “miolo”), a Baixada se liga – nos vários sentidos do termo – cotidianamente?

A minha impressão é que não ou, pelo menos, muito pouco, muito aquém do necessário para nos orgulharmos de uma identidade própria. Até pela história de nossa formação social, vivemos bastante isolados uns dos outros. Afinal, a Baixada é filha da falta de planejamento do crescimento da metrópole. A partir da década de 50 e, principalmente na de 60, os pobres da periferia da Guanabara (menos os das favelas mais ao centro, que foram levados para a Cidade de Deus e Zona Oeste) e os que continuavam chegando do Nordeste e do interior do Sudeste, foram jogados nos municípios mais pertos do antigo estado do Rio de Janeiro. Este que vos escreve, por exemplo, é filho de capixabas, nasceu em 1962 em Santa Tereza, morou em Bento Ribeiro e desde 1969 habita pelas bandas de Mesquita/Nova Iguaçu.

Assim, em parcerias, digo, ação entre amigos dos poderes públicos com donos de loteamentos, foram aparecendo bairros sem rede de esgotos, abastecimento d’água ou iluminação pública. Com a explosão do crescimento demográfico desses lugares, multiplicaram-se os problemas: trânsito e transporte ruins, redes públicas de saúde e educação precárias e insuficientes, ausência de aparelhos e política culturais etc. Isso tudo contribui para o “exílio em si mesmo” de cada município e até de cada bairro.

Além disso, a capital, pelo poderio econômico, possui uma força gravitacional desproporcional. Cada município da Baixada é atraído diretamente para a órbita do Rio e, em sua rota de satélite, não vê e nem interage com o seu vizinho. É claro que há inúmeras iniciativas, em especial na sociedade civil organizada, de re-união da Baixada, mas o que estou dizendo é que isso ainda é insuficiente e não é um movimento espontâneo dos indivíduos da região. Além do mais, disputas do tipo “quem é a capital da Baixada, Caxias ou Nova Iguaçu?” – que indiretamente reproduz a relação Império-Colônia que o Rio tem conosco – só fortalece o isolamento e a divisão tão propícios para o Reino.

Concluindo, acho que a Baixada precisa de mais iniciativas de autorreconhecimento e de incentivo à reflexões e ações conjuntas. A Rede de Cultura organizada pela FASE, o Fórum Reage Baixada que pretende promover atividades permanentes e a comemoração do Dia da Baixada, entre outros, são ações importantes que devem ser elogiadas e fortalecidas. A caminhada só está começando. No futuro, quem sabe, não correremos o risco de sermos pegos desprevenidos quando a sociedade gritar: “Baixada, blitz, documento!’. Teremos os instrumentos...

Ewerson Cláudio

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Artigo
À procura de um espelho

Ewerson Cláudio

 O jeitinho brasileiro é realçado em manifestações que revelam a jinga, a alegria, a leveza e o prazer, afinal, “quem não gosta de samba, bom sujeito não é”. Somos o país do Carnaval e do Futebol. Somos um país que explode em gol e desfila suas fantasias em performances apoteóticas.


Nesse processo de construção de instituições nacionais simbólicas, é interessante notar que, embora haja inúmeras possibilidades de outras identidades; que o Brasil tem dimensões continentais e foi formado por inúmeras culturas, o foco identitário deu-se a partir de manifestações eminentemente urbanas, ainda que de abrangência nacional. Na música, por exemplo, sabemos que o samba-exaltação – fortemente apoiado por Getúlio Vargas – foi um dos elementos que contribuiu para a consolidação do Samba e do Carnaval na identidade cultural brasileira.

Outra questão interessante é a identificação da brasilidade e do exocentrismo (a referência no outro, no que está fora) como elementos centrais na reflexão de vários intelectuais sobre o país. Se analisarmos filmes, músicas, carnaval e futebol, perceberemos que, ao mesmo tempo em que estes elementos tornaram-se estruturantes de nossa identidade (afinal, samba e Pelé – e, hoje, Ronaldinho Gaúcho – são conhecidos mundialmente), essas instituições são incapazes de nos trazer a redenção; parecem carregar uma espécie de pecado original por serem elementos de alegria e não de trabalho; parece haver uma formiga em nossas consciências a alertar nosso jeito cigarra (aliás, uma fábula européia). No futebol, temos um exemplo clássico de exocentrismo. Ao perdermos uma Copa do Mundo na década de 80, o melhor futebol do planeta preocupou-se em “aprender a seriedade com os europeus” e, na próxima Copa, apresentamos uma das performances mais medíocres da história de nosso futebol. Mais recentemente, nossas vitórias e derrotas continuam condicionadas a se incorporamos ou não o “espírito europeu” de se jogar.

Assim o é também na política. Não importa se os EUA têm chefes de Estado que, periodicamente, promovem guerras e massacres para atualizarem suas indústrias armamentista e petrolífera; se há governos europeus fantoches e sócios menores desses interesses. Sem querer subestimar nossas mazelas – e são muitas! – parece que não nos damos conta de que temos problemas característicos de nossa formação social ao longo do tempo, assim como países mais evoluídos também apresentam problemas graves – capazes de inviabilizar a vida no planeta, por exemplo! – resultantes de opções que fizeram ao longo de sua história. Enfim, não percebemos que nossos problemas não serão resolvidos com imitação de realidades e contextos que não são adaptáveis.

Importante também perceber a relação compensatória entre nação e sociedade no Brasil contemporâneo. Um governo considerado elitista como o de Fernando Henrique Cardoso era contrabalançado, pelo menos por um período, pelas medidas de estabilização econômica, em especial da moeda, que garantiam uma certa tranqüilidade, principalmente se comparado à escalada inflacionária anterior. Se o Governo Lula deixou transparecer a podridão das engrenagens seculares de poder no Brasil, “pelo menos” houve uma maior preocupação com os pobres. Nessa equação compensatória – que repete chavões do tipo “Getúlio – ditador, porém, pai dos pobres”; “Jânio – rouba, mas faz” - nossa satisfação é garantida haja o que houver e o nosso futuro... vai ficando para depois.

A necessidade de se romper com esses parâmetros é bastante provocadora e necessária, ainda que se leve um bom tempo para a construção de novos pilares para a autorreferência de nossa identidade. Assim, por mais difícil que possa ser, estaremos desafiados a procurar ou construir nosso próprio espelho.