Quando percebi
que minha mãe não ficaria ali comigo, comecei a choramingar. Era o meu primeiro
dia na escola e ela não tinha combinado comigo que eu ficaria lá sozinho. Minha
mãe explicava à Dona Sueli que eu enxergava pouco - ainda nem usava óculos! - e
que precisava ficar bem pertinho do quadro. A professora improvisou uma
carteira (lugar para sentarem duas crianças) à frente da primeira fileira, onde
fiquei sentado com uma mochila colorida e minha lancheira.
A professora escrevia o cabeçalho
e, quando se voltou para a turma para dar uma espiada nos pestinhas, tomou um
susto. Ao olhar para a minha carteira, lá estava eu a copiar:
Instituto Paroquial Dom
Bosco
Rua Oscar Bueno (não me
lembro o número),
Banco de Areia
Jardim
de Infância - turma...
Ela colocava o
cabeçalho no quadro só para constar, mas Dona Claudimira (minha mãezinha
querida) já havia me alfabetizado em casa! Passei vários meses do primeiro semestre
de 1969 em Anápolis, Goiás, junto com minha avó paterna, Ana, na casa de um
tio-avô. Só comecei a ir para a escola em agosto, depois das férias de julho,
quando já ia completar sete anos de idade. Ainda assim, conseguia fazer todos
os deveres de aula e de casa - gostava mesmo de fazê-los.
No final do
ano, tirei em "1º lugar" na turma e adorei quando ganhei de prêmio da
Dona Sueli um revólver enorme de plástico (lembro-me que era amarelo), que saí
mostrando para todos os colegas da rua Josefina. No ano seguinte, a direção da
escola concluiu que eu poderia "pular" a 1ª série-A e ir direto para
a 1ª série-B. No ano anterior, só fui para o Jardim de Infância porque, no
teste inicial, que consistia em escrever o alfabeto, esqueci de colocar a letra
H.
Não me lembro
em que época as professoras viraram tias. Na década de 1970, com certeza, não.
Depois de "Dona Sueli", lembro de "Dona Arlete" (2ª série)
e "Dona Jacira" (2ª e 4ª). Quando terminei o primário, em 1973, tive
sorte, pois havia acabado a necessidade da "Admissão ao Ginásio" -
isso mesmo: você tinha que estudar um ano inteiro para "ingressar" no
Ginásio.
Ah, a Dona
Sueli - descobri depois -, à época, tinha dezessete anos.
Através dela e
de minha saudosa mãe parabenizo todas as "donas", "tias",
professoras, professores e mestres que tive e tenho no ensino formal e na
escola da vida.
Ewerson Cláudio de Azevedo
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