quinta-feira, 19 de abril de 2012

Reflexões a partir do debate BAIXADA E MEGAEVENTOS NO RIO


(Debate organizado pela ComCausa, em 18/ab/2012. Palestrante: Aércio de Oliveira; coordenador: Ewerson Cláudio)

  • Os megaeventos do Rio têm servido como mote para uma redefinição urbanística da capital que interfere em toda a região metropolitana, onde está a Baixada Fluminense. Por trás do oba-oba,  o Brasil está submisso a interesses econômicos da FIFA (vide Lei Geral da Copa) e promovendo faxina étnico-social. 
  • A remodelagem do Rio baseia-se na especulação imobiliária, na privatização direta ou indireta de espaços da cidade (Porto Maravilha, áreas da Barra) e no deslocamento da pobreza para longe das áreas nobres e promissoras para o capital. O resultado disso, para a periferia como a Baixada Fluminense, será a continuidade da urbanização desordenada. 
  • Os megaeventos têm sua importância (e consequências) econômico-social e simbólica, mas o estado do Rio está passando por uma série de intervenções econômicas que movimentam um volume de recursos muito maior – e de caráter permanente: a exploração do pré-sal, Porto do Açu, COMPERJ (Complexo Petroquímico), Arco Rodoviário Metropolitano, entre outros. Infelizmente, tudo isso está dentro de um modelo de desenvolvimento que, ao invés de integrar, agride as comunidades locais e o meio ambiente ao não buscar alternativas de matriz energética. 
  • O conjunto de intervenções urbanísticas a partir dos megaeventos privilegia as áreas nobres. Baixada Fluminense, região de São Gonçalo e a própria periferia da capital são pra lá de secundários. Das vias públicas a serem construídas, a prioridade é integrar a Barra (como a Transcarioca). Nessa área, a única obra com interferência direta em relação à Baixada Fluminense é a extensão da Via Light até a Transcarioca. Ainda assim, devemos conferir – e pressionar – para que esta obra entre de fato no rol de prioridades. 
  • No conjunto de intervenções na área de saneamento básico, o Projeto Iguaçu (recuperação dos rios Iguaçu, Sarapuí e Botas) prevê a construção da Transbaixada, às margens do rio Sarapuí, ligando Duque de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis e Mesquita. O problema é que a inauguração estava prevista ...para 2012! Ou seja, sem pressão, corre o risco de ficar no papel. 
  • A sociedade civil da Baixada Fluminense tem que pressionar e intervir no que está sendo feito (ou apenas pensado) para a região. Como exemplo, o Arco Rodoviário Metropolitano não é só uma estrada que levará produtos do COMPERJ ao Porto de Itaguaí. Ela corta cidades, comunidades, sítios arqueológicos, culturas, histórias, faixas de mata atlântica. Sem consciência ecológica e planejamento para o entorno da estrada, junto com o asfalto, veremos a degradação ambiental e a ocupação desordenada. 
  • A recuperação ambiental dos rios da Baixada Fluminense só será algo duradouro se estiver acompanhada de política habitacional séria, que enfrente o atual déficit de moradia, especialmente para a população de menor renda (coisa que o “Minha casa, minha vida” não tem dado conta). Além disso, é necessário que haja políticas sociais, culturais e educacionais permanentes. E só um detalhe: o projeto Iguaçu custa cerca de R$ 400 milhões. Derrubar o Maracanã e construir outro, pode chegar a R$ 1 bi. 
  • A metrópole – capturada pelos interesses capitalistas – continua concebendo a Baixada Fluminense como celeiro de mão-de-obra barata. As portas dos investimentos das elites continuam abertas para os peões da construção civil, empregadas domésticas, porteiros, vigilantes, garçons etc. 
  • O fluxo é desigual e descombinado: nossas águas do rio Guandu chegam rapidinho ao centro e à zona sul da capital e o desabastecimento só aumenta aqui na Baixada. Por outro lado, até para vender nossa força de trabalho “lá em baixo”, gasta-se até de quatro a cinco horas no péssimo transporte – engarrafados no asfalto ou enlatados no trem e no metrô. 
  • Sinais de luta e mobilização: em 24/mar/2012 o movimento “Água para Todos” fez manifestação de protesto contra a falta d’água em inúmeros bairros de Mesquita. No dia 10/abr/2012, a partir da mobilização de educadores e pais de alunos, houve audiência pública da Câmara de Vereadores de Mesquita sobre o vertiginoso aumento da violência e da guerra do tráfico de drogas no bairro da Chatuba, em Mesquita. Água e narcotráfico são faces de uma política que coloca um cordão sanitário para abastecer e proteger áreas nobres, empurrando as mazelas para bem longe (deles), na periferia.

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