quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Dona Antônia

Dona Antônia

Não tenho foto dela, antigamente isso era coisa rara. Lembro-me de sua risada solta e frequente, falava praticamente rindo. Mãe de cinco filhos que se tornaram meus amigos de infância, adolescência e até hoje: Selma, Oscar (Neco), Ari, Sandra e Cassinha. Esposa de Seu Oscar, mestre-de-obras pernambucano mais ou menos brabo, mas que amolecia com o Flamengo e Nelson Gonçalves.

Gordinha como minha mãe, Dona Antônia era a nossa mãezona, dos que passavam quase todas as tardes no imenso quintal da sua casa onde havia duas mangueiras, uma com um balanço e outra onde subíamos para brincar de pique, de onde despenquei certa vez com galho e tudo. No verão, era pra lá que íamos esperar os primeiros pingos de chuva para ir jogar bola no campinho do lado – nos temporais, o plano era fingir de jogar bola, enlamear-se e chegar em casa sob esporros e/ou chineladas da mãe. Na adolescência, Dona Antônia não esquentava com as festinhas americanas com James Brown e música lenta ou, um pouco depois, com as rodas de violão e vinho ruim.

Na última vez que a vi há poucos meses, já com a saúde debilitada, sua memória estava boa e a risada permanecia.

Adeus, mãezona!

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

De 2015 pra trás

O
trem da vida prossegue e a gente vai lembrando de muitas estações. Alguns episódios em minha vida fizeram “anos redondos”, década(s) em 2015. Há trinta anos, entrei para a diretoria da FAMERJ; era fundado o MCR (Movimento Comunista Revolucionário) e ingressei no INPS, atual INSS. Vinte anos atrás, a morte de minha querida mãezinha. Há dez anos, minha saída do PT. Prosseguindo viagem, por uns momentos, é como se o trem passasse de novo nessas estações, mas sem a gente poder saltar e interagir com as paisagens, apenas observá-las e refletir.
“Pela janela do quarto, pela janela do carro, pela tela, pela janela. Quem é ela? Quem é ela? Eu vejo tudo enquadrado, remoto controle”.

Adriana Calcanhoto








1985, setembro - Surge o MCR
1985, outubro - Passei para o INPS
1995, dezembro - Perdi minha mãezinha
2005, novembro - Minha saída do PT

(Clicando no primeiro link, acesse as partes do texto)


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Dona Sueli


Quando percebi que minha mãe não ficaria ali comigo, comecei a choramingar. Era o meu primeiro dia na escola e ela não tinha combinado comigo que eu ficaria lá sozinho. Minha mãe explicava à Dona Sueli que eu enxergava pouco - ainda nem usava óculos! - e que precisava ficar bem pertinho do quadro. A professora improvisou uma carteira (lugar para sentarem duas crianças) à frente da primeira fileira, onde fiquei sentado com uma mochila colorida e minha lancheira.

A professora escrevia o cabeçalho e, quando se voltou para a turma para dar uma espiada nos pestinhas, tomou um susto. Ao olhar para a minha carteira, lá estava eu a copiar:

Instituto Paroquial Dom Bosco
Rua Oscar Bueno (não me lembro o número), Banco de Areia
Jardim de Infância - turma...

Ela colocava o cabeçalho no quadro só para constar, mas Dona Claudimira (minha mãezinha querida) já havia me alfabetizado em casa! Passei vários meses do primeiro semestre de 1969 em Anápolis, Goiás, junto com minha avó paterna, Ana, na casa de um tio-avô. Só comecei a ir para a escola em agosto, depois das férias de julho, quando já ia completar sete anos de idade. Ainda assim, conseguia fazer todos os deveres de aula e de casa - gostava mesmo de fazê-los.

No final do ano, tirei em "1º lugar" na turma e adorei quando ganhei de prêmio da Dona Sueli um revólver enorme de plástico (lembro-me que era amarelo), que saí mostrando para todos os colegas da rua Josefina. No ano seguinte, a direção da escola concluiu que eu poderia "pular" a 1ª série-A e ir direto para a 1ª série-B. No ano anterior, só fui para o Jardim de Infância porque, no teste inicial, que consistia em escrever o alfabeto, esqueci de colocar a letra H.

Não me lembro em que época as professoras viraram tias. Na década de 1970, com certeza, não. Depois de "Dona Sueli", lembro de "Dona Arlete" (2ª série) e "Dona Jacira" (2ª e 4ª). Quando terminei o primário, em 1973, tive sorte, pois havia acabado a necessidade da "Admissão ao Ginásio" - isso mesmo: você tinha que estudar um ano inteiro para "ingressar" no Ginásio.

Ah, a Dona Sueli - descobri depois -, à época, tinha dezessete anos.

Através dela e de minha saudosa mãe parabenizo todas as "donas", "tias", professoras, professores e mestres que tive e tenho no ensino formal e na escola da vida.

Ewerson Cláudio de Azevedo

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Pra não dizer que eu não falei de Copa

#vaitercopa, mas

  • Parcela significativa da sociedade brasileira percebeu que não valeu a pena o volume de gastos públicos em estádios-elefantes brancos ou re-reconstruídos (é assim mesmo, não sou gago). Por ironia do destino, o país do futebol, ao sediar uma Copa ("de perto, ninguém é normal"), conscientizou-se de que o padrão FIFA se dá às custas do não investimento nas condições básicas de vida da maioria da população. Claro que as elites são coerentes: não investem em saúde, educação, transporte público etc. com ou sem Copa. Não há legado, há direitos negados e setores logrados.
  • Mesmo com o ataque especulativo da mídia empresarial e do comércio em geral, a empolgação e o consumo não são extraordinários se levarmos em conta que esta Copa é no Brasil. Falo isso não porque vi no Gúgou, Feice ou tese acadêmica. É o que vivi desde a primeira Copa em que eu já tinha algum grau de compreensão (sobre futebol), em 1974, e o que estou vendo hoje no meu quarteirão, bairro, cidade onde moro e cidade onde trabalho.
  • Os questionamentos gerais, difusos e confusos ou as reivindicações específicas vão continuar. Junho de 2013, com suas contradições, formou um caldo de cultura propício para que demandas reprimidas irrompam em manifestações, ações diretas e insurgências contra o statu quo - nos governos e empresariado insensíveis ou nos sindicatos conformados. Também acho que a palavra de ordem "Não vai ter Copa" estava equivocada, mas é bom lembrar que diversos setores em luta utilizaram alternativas como "Copa para quem?" ou "Na Copa vai ter Luta". Céticos e "críticos dos que criticam" diziam que Junho de 2013 não valeu porque foi genérico; agora não vale porque é específico, corporativo. Ora, todo projeto expressa - e disputa - interesses de corporações econômicas, culturais ou políticas. A diferença é que algumas dessas corporações controlam o processo produtivo, o aparelho de Estado, a mídia etc.; exercem a hegemonia ideológica e transformam seus interesses particulares em interesse geral. Também acho que as lutas não deviam ser corporativas. Uma greve geral seria o melhor.
  • Mesmo tendo luta, ninguém é de ferro. Não há contradição entre questionar e acompanhar/torcer. O futebol é uma das expressões da cultura popular brasileira. Aqui - e pesquisas mostram que não mais do que na Argentina ou Inglaterra - o futebol é uma paixão nacional. Em outros países pode ser o basquete, beisebol, hóquei, tênis de mesa... Ou seja, o futebol não é o ópio do povo. O "ópio" pode ser qualquer esporte ou outro aspecto cultural de um povo que sirva para aliená-lo. Qual país tem a sua seleção de futebol com índice de credibilidade maior do que governos, partidos, igrejas e polícias? A Alemanha! Isso mesmo, a Alemanha. Peguei a tabela da Copa e agendei um monte de jogos da primeira fase (da Espanha, Argentina, Alemanha, Itália e Holanda): depois do trabalho ou de alguma manifestação importante, darei prioridade a esses jogos. Aliás, assisto muita coisa também em Olimpiadas.
  • Não é "obrigação" torcer pelo Brasil. E isso não tem nada a ver com ser de oposição ou ser governista. Na maioria das vezes, torci pelo Brasil. Lembro-me de não torcer em 1990 (eu odiava o Lazaroni, técnico da seleção, que deixou Bebeto e Romário no banco). Em 2006 e 2010, sinceramente, não sofri com a eliminação do Brasil. O futebol, como tudo, foi globalizado e o Brasil é o melhor exportador de commodities para o futebol de 1º mundo jogado em três ou quatro países europeus. Em mim, isso cria um certo distanciamento - coisa de velho, talvez. Jogo da seleção na Copa é sinônimo de não-trabalho, cerveja, amigos e outras coisas legais - acho que as manifestações de protesto devem acontecer em outro momento. Se eu aproveito feriado de Corpus Crhisti (não consigo entender o motivo do feriado), por que não vou curtir os jogos do Brasil na Copa? Mas, já decidi que não vou de verde e amarelo (putz, a camisa do PSOL é amarela...).

domingo, 22 de setembro de 2013

Baixada Fluminense em destaque no 3º ENPROCULT - Encontro Nacional de Produção Cultural

3º Encontro Nacional de Produção Cultural
De 33 trabalhos que serão apresentados no evento, 8 são de alunos do curso de Produção Cultural do IFRJ - Instituto Federal do Rio de Janeiro (antigo CEFET-Química de Nilópolis). Desses, três apresentações falarão especificamente de temas da Baixada Fluminense.

Mais cinco trabalhos (UFF, UCAM, UERJ, UFRRJ e Escola de Cinema Darcy Ribeiro) completam o time do estado do Rio de Janeiro no evento que será realizado de 02 a 04 de outubro em Salvador, na UFBA. As outras instituições que têm apresentadores de trabalhos são: UFRN, UFAL, UFBA, UNEB, UNIPAMPA, UFRGS, UFJF

Veja os títulos dos trabalhos d@s alun@s do IFRJ:

Formulação de diretrizes para políticas culturais em âmbito municipal
Ewerson Cláudio de Azevedo

Políticas públicas para grafite no Rio de Janeiro: painel da Praça Cardeal Câmara
Priscila Pereira de Moraes

Música, educação e cultura na Baixada Fluminense: uma pesquisa participativa
Álvaro Neder, Daniel Barros Gonçalves Preira, Irla Franco e Rodrigo Caetano

Delírio e loucura no cinema de terror brasileiro dos anos 1970-80
Leandro de Souza Santos Luz

Memória, história e decadência dos cinemas de rua da Baixada Fluminense
Raphaela Siqueira e Leandro de Souza Santos Luz

De produtor para produção: extensão e conexão de uma rede na Baixada Fluminense
Águida Catarina Goes da Silva Bessa, Gabriel Henrique de Moura Ferreira, Higor Matheus da Silva Ferreira Cerqueira, Juliana Mayara de Lima Faustino e Rodrigo Dias Mendes

Uma estória que precisa ser contada! a migração de artistas circenses por um viés cultural e econômico
Sluchem Tavares Cherem

O produtor cultural nas escolas de samba do Rio de Janeiro
Ricardo Alves de Moraes e Fernanda Delvalhas Piccolo

Os demais trabalhos do estado do Rio de Janeiro são:

Relato de experiência: curso de iniciação à Produção Cultural da FIOCRUZ Mata Atlântica
Marcelo Tavares Mincarelli e Luís Alberto dos Santos Gomes  - UFRRJ

Produtor Cultural em Formação: a graduação no Brasil
Plínio Calmeto Chaves  - UFF

Os projetos culturais com foco na gestão e na governança
Sandra Helena Gonzaga Pedroso  - UCAM

Indústria cultural: cultura e identidade UERJ
Cíntia de Aguiar Lima  - UERJ

Produção à parte: experiência de uma prática autodidata
Paula Ferreira  - Escola de Cinema Darcy Ribeiro

As sessões dos 33 trabalhos do 3º Enprocult foram definidas por três eixos e nove temas. Veja o quadro completo aqui , com títulos, data, horário e local de apresentação: